O título da postagem remete a uma história contada pelo escritor Ariano Suassuna em sua visita a cidade de Lajedo-PE, em comemoração ao aniversário de emancipação política do município do interior Pernambucano. Ariano Suassuna presenteou a cidade com sua aula-espetáculo (realmente um espetáculo) nominada “A cadência, o castelo e a cantoria. Sagração nº 3”. Entre as apresentações artísticas eruditas e populares, Ariano contava diversas histórias de sua vida, uma delas me chamou a atenção em especial, que me inspirou a postagem. Ariano contou que seu cunhado dizia que cachorro não gosta de osso, mas sim de filé. Que o cachorro só se delicia com o osso porque apenas isso lhe é ofertado. E disse que as palavras do seu cunhado eram: “[...] se lhe derem osso e filé veja qual o cachorro escolherá.”, (obviamente o filé). A partir desta história, Ariano Suassuna compara o cachorro ao povo brasileiro, dizendo que nosso povo rói ossos apenas porque só isso lhe é ofertado, que se dermos filé (cultural, musical, intelectual, etc), isso a população escolheria e abandonaria os ossos que tanto lucram com nossa população.
Ariano Suassuna é um nacionalista entusiasmado, em cinco minutos lhe ouvindo se percebe quanta fé e esperança ele deposita no nosso país. Já eu, sinceramente, não tenho tanta fé no nosso povo, apesar de também ser patriota não me engano tão fácil. Ariano Suassuna, durante a aula espetáculo usava os aplausos e a euforia do público para demonstrar que nosso povo tem bom gosto, mas o entusiasmo e a paixão exacerbada pelo Brasil lhe deram uma miopia esperançosa. Os fatos foram os seguintes, realmente o público adorou o evento, só que a aula-espetáculo era apenas para convidados, aqueles que ali estavam representam uma minoria da população e não uma maioria. Devido aos fatos demonstrados pelo sucesso de Cláudia Leite e Ivete Sangalo (lembro, rol meramente exemplificativo, longe de ser taxativo), e pelas demais coisas que presenciamos na sociedade brasileira me fazem não acreditar que a falta de oferta de “filé” é que faz com que nosso povo fique a roer ossos de sabedoria. A oferta de ossos pode ser bem maior, mas o filé também está a disposição, temos as bibliotecas (sempre vazias), blogs (pouco visitados), livros (empoeirados na estantes), etc. Não consigo eximir nosso povo pela “cultura” de mal gosto que sou obrigado a acompanhar quando acesso os meios de comunicação.
O próprio Ariano Suassuna deu uma mostra disso. Ele levou e leu uma reportagem de um jornal de São Paulo, reportagem da capa do jornal, intitulada: “CALYSPSO É A CARA DO BRASIL”. Ariano quis dizer que aquela não é a cara do Brasil, e que a cara do Brasil era o espetáculo que ele levava. Sinto que o bom velhinho esteja equivocado. É Vergonhoso sim, mas infelizmente CALYPSO é a cara de UM Brasil, o maior deles, o da mídia das massas, dos eleitores eufóricos por um político que é escancaradamente corrupto, dos cantores de axé baianos, desse Brasil, realmente a banda CALYPSO é a cara. Do Brasil dos leitores do meu blog, de Ariano Suassuna, de cultos apreciadores de música, de eleitores conscientes, de estudantes esforçados, desse Brasil a cara não se representar com uma cantora que canta berrando e de um guitarrista de quinta categoria com uma mecha loira na franja do cabelo.
Ariano Suassuna, é com triste pesar que afirmo que ele é muito entusiasmado, seu entusiasmo pelo nosso povo o levou a um equívoco. Nem minha admiração por ele como pessoa, escritor, secretário de governo, professor, militante político, foram suficientes para me cegar, e me levar a crer, assim como ele, que nosso País só tem esse “mau gosto”, e essa “descultura” por ser uma vítima e não por livre opção. Creio que há alguns que realmente carecem de recursos para desenvolver uma evolução social de forma mais ampla, a maioria, caso perdido mesmo, e o motivo não sei dizer.
Você é um nacionalista entusiasmado como Ariano Suassuna? Um cético que vê dois grupos distintos com grande diferença numérica? Ou você faz parte de um terceiro grupo, mais descrente ainda do que eu sou? O Brasil pode até ser o país do POTENCIAL como muitos afirmam, mas o que existe é um potencial que não se traduz em realidade, e infelizmente, que talvez nunca há de se traduzir.